segunda-feira, 14 de junho de 2010

Muito melhor do que eu

Por que não devo me preocupar...
... parei por um instante e olhei pela janela. Eu havia me lembrado de um artigo que eu lera dias antes, escrito por um homem ateu e que dizia amargamente: sou ateu porque preciso.

Sabe, isso me incomodou um pouco... mas não devia... foi o que pensei ao colocar os pés no chão e olhar pela janela. Bem... como os ateus gostam de dizer, eu fui criado num país pobre e desvalido, cheio de superstições e crendices, e embora eu jamais tenha tido influência religiosa em minha família, ou mesmo uma obrigação de crer em Deus, eu ainda assim creio. Mas sinceramente, não acho que é porque vivo num país pobre, e tenho um QI (?) de "80", e precise me agarrar a qualquer coisa que me dê esperanças, já que não tenho dinheiro, pois o dinheiro é o deus e a esperança de muitos (sim, ateu acredita em alguma coisa).

Ao lado de minha janela tem um quadro de um grande artista (uma réplica é claro, comprado num brechó qualquer), é uma bela obra, e que admiro muito. Na verdade eu amo a arte em todas as suas manifestações... uma música bem tocada, uma pintura, um desenho... e tudo fora feito por homens... Homens!! Seres tão fúteis e propensos a falhas, erros e prepotências... que mal dão conta da sua pequenez... Se sou capaz de admirar um homem, por que eu não admiraria a Deus? Sabe... um homem vai ao banheiro, se fere, morre, erra, sofre e ri e ainda se acha o cara... é um sonho... ao mesmo tempo que é um pesadelo! E eu o admiro - algumas vezes.

Mas Deus, não falo do Deus de barba e cara de mau das religiões e dos renascentistas. Falo do Deus que os artistas tentam imitar, do Deus que inspira os músicos, do Deus que buscamos dentro e fora de nós e dos outros... ainda que disfarçadamente. Falo do Deus que os ateus tanto têm birra (como um filho tem birra do pai que não lhe deu determinado objeto do seu desejo), fazem isso como filhos birrentos - como se Deus dependesse do nosso amor ou de nossa crença... mas é típico da humanidade.

Falo do Deus inatingível, desconhecido, que a "inteligência" humana e o seu sistema e palavras difíceis não conseguem, e nunca conseguirá, apanhar, ainda que fujamos do sistema e das palavras difíceis... Penso que o mal da vida não seja nascer muitas e muitas vezes, ou se esquecer dessa ou daquela vida, ou se preocupar com esse ou aquele Karma. Se existe uma eternidade e uma alma imortal, coisas como aquelas são direcionadas para o rol das insignificâncias, pois teremos tempo para tudo isso. Penso que sou o que sou hoje porque o meu cérebro embaça as minhas vistas e me impede de ver as coisas de outra maneira. E não tenho vergonha de pensar assim, nem de estar errado em pensar, é a menor das minhas preocupações, pois sei que o resto da humanidade sabe tão pouco quanto eu... a ciência não é livre de erros, engodos e fraudes - é só ver a sua história - mesmo por que é um produto do ser humano, de seu atual modo de ver as coisas, e da sua evolução.

Hoje vi um jato romper o céu e deixar atrás de si um rastro de fumaça. Outrora eu me admiraria da inteligência humana, mas logo lembrei que ainda morre gente de inanição, que ainda há explorados e exploradores (em todos os níveis), que ainda há guerras, horrores e inacreditáveis coisas que saem do ser humano, e vi que não é tão difícil colocar um objeto mais pesado do que o ar pra voar... difícil é ser gente.

Se Deus fosse um homem de barba e meu pai, eu estaria reclamando com ele o fato de eu ser pobre, desafortunado, sozinho... mas isso não me tornou ateu, assim como não creio nele esperando recompensas. Apenas o admiro, como admiro o artista que compôs uma música e pintou um quadro (ele sequer me conhecia, e não escreveu ou pintou pra mim) pois me apraz olhar o orvalho da manhã na minha macieira e saber que foi colocado lá por um ser melhor do que eu.

Entre crêr num sonho e nos homens, eu fico com o sonho. Se eu estiver certo, quando eu virar luz e o meu Eu resplandecer perante Deus, eu chorarei e o abraçarei, e o mirarei nos olhos, sem vergonha do que fui... se eu estiver errado, e a luz se apagar no meu último suspiro definitivamente diante de mim, um segundo depois eu não terei tempo, nem o porquê, de pensar nisso, pois passado, presente e futuro não terão existido pra mim. Mas terei vivido a honra de crêr que algo no imenso e infinito universo imensurável e inescrutável, foi muito melhor do que a humanidade que conheci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário