quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Perdido entre humanos:

Há cinco mil anos que não volto ao reino dos mortais. Meu corpo ubíquo perpetuou-se e se embrandeceu com o passar dos anos, agora sou intangível e dividirei todo meu conhecimento e poder com aquele que neste momento me adorar e me servir todas as necessidades.
A pouco no panteão; vivi momentos de pura sublimidade, onde todos celebravam minha benevolência, Sou o deus da harmonia, poder e força. Apollo Senhor da beleza.
Voltei à Terra e tudo estava mudado, os seres humanos entravam em caixas super velozes e reluzentes, fiquei confuso, mas que diabos são?
Algumas outras mais estranhas ainda, falavam sozinhas, com uma pedra preta grudada no ouvido e outras usavam roupas de mendigos com poses de cidadão, alguns malucos andavam de um lado para o outro a esmo.
O mundo parece estar desvairado, como previu meu pai.
Sentei-me numa rocha e tentei admirar a distância aquele caos organizado que eram as novas cidades.
Ouvia sons de trombetas, barulhos ensurdecedores, pessoas gritavam; acho que estava ocorrendo uma guerra, mas o que será que estava havendo?
Ora uns gritavam, ora soavam aquelas trombetas, entretanto era uma guerra meio irregular, pois apesar de bradarem em fúria uns contra os outros, ninguém atacava ninguém.
Parecia um bando de loucos baderneiros, todavia resolvi aproximar-me, queria ver o que estava havendo, perguntei a um jovem barbado o que estava havendo, ele também estava dentro de uma daquelas caixas, que mais pareciam carroças sem cavalo, e perguntei-lhe o que havia e ele respondeu-me:
- Ah! São aqueles desgraçados dos motoristas de ônibus, entraram em greve de novo.
Ele assustado olhou para minhas vestes, pude notar certa ironia em seu olhar, minhas vestes reluzentes e puras, pareciam-lhe piada.
Fiquei chateado com aquilo e perguntei-lhe:
- Por que ri de minhas vestes?
Ele me olhou assustado e retrucou:
- Que espécie de maluco é você?
- Como ousas a falar com um deus assim? Poderia fazê-lo cair por terra agora!
- Sai daqui moleque! Já estou cheio de problemas, não tenho tempo para palhaçada!
Aquilo foi demais para mim. Levantei as mãos aos céus e ordenei que dele as águas descessem sem medida e que todos aqueles que estavam naquela guerra imunda se afogassem para aprenderem a ter mais respeito com os deuses.
No átimo o céu escureceu, as nuvens moveram-se velozmente, com o dedo atrai a água que jorrou dos céus, como meu choro de fúria.
Gotas espessas acometiam aqueles hostis mortais. O Homem da carroça tentava sair, mas eu com apenas um olhar consegui trancafiá-lo naquela caixa esquisita.
Via a água mover-se lentamente, subia decidida com o intuito de afogar aquele grupo de humanos dementes.
Podia ver o medo no olhar daquele arrogante, agora sim ele podia contemplar minha ira e poder.
Soprei com meus lábios uma ventania contra aqueles infelizes, sentia o silvar da minha força. Foi quando tudo acalmou-se de forma mágica.
Olhei para o lado e lá estava meu Pai: Zeus.
- Vejo que continuas mimado como sempre Apollo...
- Mas pai, eles me trataram como se eu fosse um deles, como seu eu não fosse ninguém.
- Os homens há muito perderam sua própria essência, acreditam que a vida e o universo giram em torno de sua arrogância, e que seus míseros estudos podem explicar a força que carrega o universo.
- Pai! Temos que fazê-los nos adorar, quem eles acham que são?!
- Demos o conhecimento a eles, deixa-os fazer o que acham que é certo. Hoje com esta enchente você mostrou para eles que pouco eles tem contra nós. Não podemos nos rebaixar ao nível deles.
Sorri e retornei ao palácio celestial. Vi que meu pai tinha razão! Não valia a pena perder ou gastar minhas forças com seres tão ignorantes. Viver no mundo dos deuses era mais calmo. Chega de tentar organizar a vida dos homens, melhor seria organizar a minha própria.
Afinal, nem pude aproveitar a festa do meu nascimento. Se os homens não se importavam, o que eu podia fazer? Todavia se com eles eu disputar seria de certa forma um reconhecimento do poder e da força deles, tenho certeza de que disto não preciso.
O importante é que eu existo e sobre o universo derramo meu poder.

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